Da ‘guerra fria’ ao barraco: como a relação de Trump e Elon Musk derreteu em poucos dias
Bilionário dono da Tesla saiu do governo de forma discreta e cordial, mas briga com o republicano logo se tornou pública, com os ex-aliados trocando insultos via rede social.
Donald Trump e Elon Musk consumaram o “divórcio” nesta quinta-feira (5) com uma troca de insultos pelas redes sociais, poucos dias após a saída oficial do bilionário dono da Tesla do governo.
A briga aberta começou quando, em um evento na Casa Branca, o presidente dos EUA disse estar decepcionado com Musk por causa das críticas que o bilionário fez ao projeto de lei orçamentária que tramita no Congresso.
Trump disse que Musk já sabia que o projeto seria enviado ao Congresso e que não sabe se eles terão “uma ótima relação como antes”.
Pouco depois, Musk respondeu a Trump pela rede social X. Ele negou ter sido informado sobre o projeto e afirmou que Trump estava sendo ingrato: “Sem mim, Trump teria perdido a eleição”.
Foi o que bastou para Trump ameaçar — em uma mensagem na sua própria rede social, a Truth Social — encerrar os subsídios e contratos do governo com empresas do bilionário sul-africano, como Tesla e SpaceX. Musk respondeu novamente, associando o presidente ao escândalo sexual envolvendo Jeffrey Epstein.
Um bate-boca de tamanha proporção era inimaginável até poucos dias atrás, quando, apesar das rusgas, Musk se despediu do governo Trump em um clima de cordialidade.
Há algumas semanas, os dois viviam num clima de ‘guerra fria’ devido à discordância de Musk em relação à política tarifária implementada por Trump. Nas frente das câmeras, porém, ambos trocavam elogios.
Na sexta-feira (30), Trump elogiou o que chamou de “esforços” do bilionário Elon Musk para cortar gastos federais durante uma entrevista na Casa Branca, quando o CEO da Tesla deixou o governo.
Musk, que chefiava o Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), havia prometido cortes substanciais nas despesas do governo. Ele interrompeu o serviço de diversas agências federais, mas acabou ficando muito aquém das enormes economias que havia prometido inicialmente.
“Elon trabalhou incansavelmente ajudando a liderar o programa de reforma governamental mais abrangente e consequente em gerações”, disse Trump, usando um boné preto do Doge e uma camiseta com os dizeres “The Dogefather” no estilo do filme “O Poderoso Chefão” (“The Godfather”, na versão em inglês).
Dias antes, nos bastidores, Musk havia provocado frustração entre autoridades da Casa Branca ao criticar o abrangente projeto de lei tributária e de gastos de Trump como “caro demais”. Alguns assessores, incluindo o vice-chefe de gabinete Stephen Miller e a chefe de gabinete Susie Wiles, consideraram as declarações de Musk sobre o projeto de lei tributária como uma ruptura com o governo.
‘Ele não vai embora’
Não houve sinais de tensão entre Trump e Musk na sexta-feira.
“Elon realmente não vai embora”, disse Trump. “Ele vai ficar indo e voltando.”
Musk disse que pretende dedicar a maior parte de sua energia ao seu império empresarial, incluindo Tesla e SpaceX, depois que alguns investidores expressaram preocupação de que o Doge estava ocupando muito do seu tempo.
Ele também disse que planeja reduzir seus gastos políticos, depois de gastar quase US$ 300 milhões apoiando a campanha presidencial de Trump e de outros republicanos em 2024.
Musk inicialmente afirmou que o departamento cortaria pelo menos US$ 2 trilhões em gastos federais. Quatro meses após o início dos esforços, o setor agora estima ter economizado US$ 175 bilhões.
Mas os detalhes publicados em seu site, onde é feita a única contabilização pública dessas mudanças, somam menos da metade desse valor.
Resumos do Tesouro dos EUA analisados pela agência Reuters mostram que as agências visadas pelo DOGE cortaram cerca de US$ 19 bilhões em gastos combinados em comparação com o mesmo período do ano passado, muito abaixo da meta original de Musk e representando apenas cerca de 0,5% do total de gastos federais.
Musk disse na sexta-feira que continuaria a atuar como conselheiro de Trump e expressou confiança de que o Doge acabaria conseguindo economias muito maiores.
“Este não é o fim do DOGE, mas sim o começo”, disse ele.
Peça-chave
Peça-chave na vitória de Trump nas eleições de 2024, Musk foi assessor especial do presidente desde o início de seu mandato, em janeiro deste ano. O bilionário anunciou na quinta-feira que deixará o governo do republicano, dois dias antes do prazo máximo de 130 que o cargo prevê.
Musk sai de cena após a relação com Trump, que no início da gestão era fervoroso, de forma discreta e com clima de fim de festa —quase como um divórcio. Entenda em detalhes abaixo como foi esse processo.
O bilionário tinha “carta branca” para fazer as mudanças e cortes que achasse necessários na máquina pública do governo americano com seu Departamento de Eficiência Governamental. No entanto, o saldo que ele deixa é aquém das expectativas. Veja como foram os 128 dias de Musk no poder e relembre os principais acontecimentos do período do bilionário na Casa Branca.
Trump e Musk: do namoro ao divórcio
Se Elon Musk foi peça-chave na vitória de Donald Trump nas eleições de 2024, sob os holofotes de uma campanha barulhenta, agora o bilionário se despede da Casa Branca de forma discreta.
▶️ Contexto: a saída de Musk do comando do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) foi confirmada na noite de quarta-feira (28). No governo, o bilionário ocupava um cargo especial — que, por lei, só pode durar 130 dias.