É necessária uma ação integrada para frear a propagação da dengue
Especialistas apontam a vacinação, mudanças estruturais no atendimento hospitalar e a educação como principais formas de combate. E cobram uma campanha acirrada em favor da imunização de grupos mais vulneráveis da população
No segundo painel do CB.Debate sobre dengue, foram discutidos aspectos epidemiológicos, diagnóstico e tratamento. Os especialistas reforçaram a necessidade de ações integradas para conter a doença, destacando a importância da educação, da vacinação e da organização do atendimento médico.
A professora Carla Pintas, da Universidade de Brasília (UnB), enfatizou que a dengue está presente no Brasil há mais de 40 anos e que o conhecimento do vírus é essencial para controlar sua disseminação. Ela destacou que medidas simples, como a limpeza semanal de ambientes para eliminar criadouros do mosquito Aedes aegypti, podem fazer grande diferença. Além disso, apontou o papel fundamental das escolas na educação sobre a dengue, ressaltando que crianças bem informadas podem ajudar a identificar focos do mosquito e influenciar hábitos dentro de casa.
O atendimento eficiente e oportuno aos pacientes também foi um dos pontos centrais do debate. A especialista alertou que, embora a hidratação seja o principal tratamento para a dengue, muitos casos se agravam devido à demora no atendimento ou à falta de reavaliação dos sintomas. “Os pacientes precisam de acompanhamento. Não basta atender e mandar para casa, pois a evolução para quadros graves pode ser rápida”, explicou. Ela defendeu a ampliação das unidades de hidratação e a capacitação contínua dos profissionais da rede pública e privada, garantindo um encaminhamento adequado dos pacientes.
Outro ponto discutido foi a baixa adesão à vacinação. Carla defendeu uma ação conjunta entre as Secretarias de Saúde e Educação para promover a imunização dentro das escolas. “Não devemos esperar o primeiro caso na família para tomar essa decisão. A vacina é uma ferramenta essencial no combate à dengue”, reforçou.
O pesquisador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde Pública da Fiocruz Brasília, Cláudio Maierovitch, também presente no debate, reforçou a importância da vacinação nas escolas. “São quase quatro décadas de estratégias que não conseguiram eliminar o mosquito. Isso não significa que devemos interromper esse combate, mas estamos diante de uma grande mudança: a vacina. A expectativa é que, em alguns anos, ela poderá controlar a dengue no país”, disse.
No momento, a vacinação está restrita a crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, o que exige estratégias eficazes para ampliar a cobertura vacinal. “Temos a experiência da vacina contra o HPV. O Brasil bateu recorde mundial de cobertura na primeira dose porque levou a vacinação para as escolas. Porém, a segunda dose exigia que os adolescentes fossem até as unidades de saúde, e a adesão caiu drasticamente. Ou seja, aprendemos uma lição: é fundamental que as secretarias de Saúde do país atuem dentro das escolas para garantir a vacinação dos estudantes. Isso não pode esperar”, completou.
Letalidade
O pesquisador também chamou atenção para a gravidade da situação no Distrito Federal, que teve a maior incidência de casos de dengue no país no ano passado, com uma taxa de letalidade duas vezes maior que a média nacional. “A capital federal registrou uma letalidade oito vezes maior que a do município do Rio de Janeiro. Algo deu errado. E não é a primeira vez que vemos essa alta mortalidade e a repetição de problemas. Diante do grande número de casos, praticamente todo mundo conhece alguém que teve dengue. Muitos pacientes relataram a mesma situação: buscavam atendimento e não encontravam. É essencial que, neste ano, o cenário seja diferente, com profissionais devidamente preparados para essas emergências. E essa preparação não pode se limitar a documentos. Ela precisa ser efetiva”, alertou.
Fonte: Correio Braziliense