Animais resgatados de circo há 17 anos são xodó no Zoo de Brasília
O elefante Chocolate, a hipopótamo fêmea Iuly e o rinoceronte Thor recebem cuidados, atenção e carinho no Zoológico de Brasília. Veja a segunda reportagem da série do Correio sobre os animais mais famosos do Zoológico de Brasília
Elefante, hipopótamo e rinoceronte, integrantes da megafauna — termo que designa aves e mamíferos com mais de 50 kg — são campeões em roubar a atenção dos visitantes do Jardim Zoológico de Brasília. Contudo, quem os vê grandes e alimentados, soltos em um recinto de tamanho ideal às espécies com grandes proporções, jamais imagina que esses bichos carregam lembranças de um passado, em cima de um picadeiro, marcado pela crueldade.
Em 2008, o Distrito Federal viveu o caso do Circo Le Cirque, denunciado pela ONG ProAnima (Associação Protetora dos Animais). Após uma operação de fiscalização ambiental, foram apreendidos pelo Ibama, que constatou indícios de maus-tratos, 10 pôneis, quatro elefantes, duas girafas, dois camelos, duas lhamas, um hipopótamo, um rinoceronte e uma zebra.
Alguns dos resgatados foram encaminhados para o Zoo da capital federal e, mais tarde, viraram o xodó do público, que se comoveu com suas histórias — é o caso do elefante Chocolate, da hipopótamo fêmea Iuly e do rinoceronte Thor. O Correio os visitou e conferiu de perto como eles estão passados quase 17 anos do resgate.
Memória indelével
Os abcessos que costumam aparecer na pele de Chocolate são sequelas de perversidades a que foi continuamente submetido, quando vivia no circo. Ainda que sua espécie seja considerada a maior entre os quadrúpedes não extintos, o gigante não teve forças suficientes para se defender da maldade de alguns humanos. Mesmo livre das torturas por quase duas décadas, ele ainda apresenta quadros de estereotipia — comportamentos repetitivos decorrentes de estresse.
Hellen Cristina de Sousa, médica veterinária e chefe do núcleo de mamíferos, contou que os tratadores souberam que, no circo, os “treinadores” deixavam o elefante em cima de uma chapa quente, para que ele “dançasse”. “Colocavam uma música e como a chapa estava quente, o elefante levantava uma patinha e outra, simulando, assim, uma dança. No entanto, isso causou pododermatite — inflamação nas patas. Vez ou outra, o grandão faz o movimento, repetidas vezes, como se estivesse lembrando o que passou”, disse.
A profissional apontou que os resgatados sofreram tanto violência física quanto psicológica. “Existe o ditado de ‘memória de elefante’ e é isso que acontece com o Chocolate. Ele não esquece o que passou. Os elefantes têm memória excepcional”, revelou. Outra característica que denuncia os maus-tratos é a falta do marfim, retirado dele, provavelmente, para que não tivesse as presas para se defender.
Fonte: Correio Braziliense