Estou na UnB! Conheça as histórias de superação de quem sonha com ensino superior
Sonhadores e idealistas, aprovados na universidade tiveram uma trajetória de persistência e quebra de barreiras culturais
Coração palpitando, choros de felicidade e alegria na família. É um cenário comum ao ler seu nome na lista de aprovados no vestibular. Na última segunda-feira, o Teatro de Arena da Universidade de Brasília (UnB) estava cheio de novos alunos, cobertos de tinta, comemorando o início de uma nova fase que, para muitos, representa a chance de mudar não só sua vida, mas a das pessoas ao seu redor.
É o caso de Guilherme Souza Puyanawa, 18 anos, aprovado no vestibular indígena da UnB para o curso de engenharia agronômica. Morador da comunidade Puyanawa, no Acre, o jovem pretende vir a Brasília no próximo mês a fim de conhecer a cidade, organizar sua mudança e se preparar para o início das aulas. “Essa conquista representa um passo importante na minha vida. É a oportunidade de mudar minha realidade e a da minha aldeia”, conta.
Guilherme é o primeiro de sua família a ingressar em uma universidade. A chance de fazer o vestibular perto de seu município, em um polo da UnB no Instituto Federal do Acre, evitou que ele precisasse antecipar sua ida à capital federal. Mas a jornada não foi simples. “Precisamos articular com o cacique um ônibus que pudesse levar os alunos até o local da prova, que ficava a 34,4 km de Mâncio Lima, onde moramos. Saímos embaixo de um temporal”, relata.
Dos 11 estudantes da comunidade que se inscreveram, sete foram aprovados na UnB. “É uma conquista grande para a nossa escola indígena, que introduz tanto a nossa cultura quanto o ensino ‘de fora’, permitindo que os alunos possam ingressar em universidades”. Agora, a comunidade está se juntando para arrecadar fundos e auxiliar na permanência dos jovens em Brasília. Familiares e amigos foram, segundo o calouro, essenciais nessa caminhada.
Por isso, o objetivo de Guilherme, após concluir a graduação, é voltar ao Acre e investir em um projeto voltado à agricultura sustentável. “Acredito que, ao incentivar práticas agrícolas que respeitem o meio ambiente, podemos não apenas melhorar a qualidade de vida dos agricultores, mas também fortalecer a economia local. Na minha comunidade, quero ajudar a criar oportunidades de emprego e capacitação para jovens que, assim como eu, possam ter a chance de chegar ao ensino superior”, explica.
Sonho antigo
Para Bruna Abdala, 43, o sonho de estudar na UnB foi realizado 25 anos após concluir o ensino médio. “Tentei passar dos 18 aos 22 anos, sem sucesso, sequer chegava perto da aprovação. Em um dos anos que fiz, tive crise de ansiedade e não consegui terminar a redação, então, nem fui no dia seguinte. Era muito frustrante. A cada seis meses fazia a prova e era certo que não passaria. Me sentia um fracasso”, desabafa.
Mesmo conseguindo se formar em uma faculdade particular, em publicidade e propaganda, a bancária ainda pretendia tentar uma vaga na federal novamente. O temor da prova de exatas e a suspeita de não ter se saído bem na redação quase a impediu de realizar a segunda parte do vestibular de 2024. “Minha aprovação foi uma grande surpresa, porque sair de casa para quebrar a cabeça numa prova difícil é um desafio, mesmo que a gente não tenha obrigação de passar. Seu senso de eficácia fica abalado quando você vai mal”, conta.
O curso escolhido foi ciências sociais. “Sempre quis me aprofundar em como as sociedades funcionam, suas estruturas e os impactos que essas estruturas têm em nossas vidas. Sou muito de questionar e acredito que a universidade vai me ajudar a estruturar melhor o meu pensamento crítico. Mas penso também no coletivo, espero que meus conhecimentos sirvam de base, no futuro, para que eu consiga estruturar projetos sociais direcionados à comunidade em geral”, explica.
A persistência em tentar uma graduação na UnB se deu, também, por conta do apoio da família. “Minha mãe e irmão sempre acreditaram que eu daria conta de algo assim, muito mais do que eu mesma. Comemoramos bastante. Agora vou me organizar para conciliar as aulas com meu expediente no banco. Estou muito empolgada”, celebra.
Determinação
Ter disciplina nos estudos foi, para Vinicius Viana, 18, a chave para conquistar a aprovação no curso de licenciatura em computação. Isso porque, além de aulas habituais no Centro Educacional Stella dos Cherubins, em Planaltina, o jovem participou do projeto EducAção, extensão da UnB criada há oito anos, que oferece aulas gratuitas a estudantes de escolas públicas do Distrito Federal.
“Minha escola sempre teve ótimos professores, como o Gabriel e Eristete, que me fizeram gostar muito de biologia e de matemática. O projeto EducAção me ajudou ainda mais nessa caminhada, porque as aulas eram diárias e a equipe sempre nos motivava muito”, elogia. A preparação para os vestibulares começou já no primeiro ano do ensino médio, quando Vinicius começou a fazer as provas como treineiro para ganhar experiência.
“O maior desafio era ter disciplina, pois eu sempre ficava com vontade de jogar ou sair em vez de estudar. Foram as aulas do cursinho, no turno contrário ao da escola, que me fizeram ter maior constância”, acrescenta. O jovem recebeu a notícia da aprovação pela irmã, que fez questão de levá-lo à UnB para ver seu nome na lista de aprovados e conhecer o campus Darcy Ribeiro, onde irá estudar. “Foi uma emoção que nem sei descrever. Agora, estamos organizando nossa comemoração em família”, destaca.
Fonte: Correio Braziliense