Mudanças climáticas aumentam “efeito chicote” entre clima muito úmido e perigosamente seco, aponta pesquisa

Rápidas oscilações entre clima intensamente úmido e perigosamente seco, fenômeno que os cientistas chamam de “efeito de chicote hidroclimático” (hydroclimate whiplash) – e que teve papel nos incêndios que estão devastando Los Angeles –, aumentaram globalmente devido às mudanças climáticas, aponta uma pesquisa liderada pela Universidade da Califórnia, dos Estados Unidos, publicada esta semana na Nature Reviews.

“A evidência mostra que o efeito chicote hidroclimático já aumentou devido ao aquecimento global, e um aquecimento maior trará aumentos ainda maiores”, disse o autor principal Daniel Swain, em comunicado. “Essa sequência de whiplash na Califórnia elevou o risco de incêndio duas vezes: primeiro, aumentando muito o crescimento de grama e arbustos inflamáveis nos meses que antecederam a temporada de incêndios, e depois secando-os a níveis excepcionalmente altos com a extrema secura e calor que se seguiram.”

Uma vista aérea mostra casas destruídas enquanto pelo incêndio em Palisades, em Los Angeles — Foto: Getty Images
Uma vista aérea mostra casas destruídas enquanto pelo incêndio em Palisades, em Los Angeles — Foto: Getty Images

Registros climáticos globais destacam que o fenômeno registrou alta de 31% a 66% desde meados do século XX. E modelos climáticos potencialmente conservadores projetam que ele mais que dobrará se as temperaturas globais subirem 3ºC acima dos níveis pré-industriais.

Um fator-chave para essa alta é a “esponja atmosférica em expansão”, ou seja, a crescente capacidade da atmosfera de evaporar, absorver e liberar 7% mais água para cada grau Celsius que o planeta aquece.

Pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, inundada durante a enchente que assolou o Rio Grande do Sul em 2024 — Foto: Getty Images
Pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, inundada durante a enchente que assolou o Rio Grande do Sul em 2024 — Foto: Getty Images

“O problema é que a esponja cresce exponencialmente, como juros compostos em um banco. A taxa de expansão aumenta com cada fração de grau de aquecimento”, alertou Swain. “O planeta está se aquecendo em um ritmo essencialmente linear, mas nos últimos 5 ou 10 anos tem havido muita discussão sobre a aceleração dos impactos climáticos. Esse aumento no efeito chicote do hidroclima, por meio da esponja atmosférica em expansão exponencial, oferece uma explicação potencialmente convincente.”

Em razão do hydroclimate whiplash, o mundo tem registrado mais chuvas torrenciais quando chove e seca mais severas quando está seco. Mas também têm tido implicações importantes para a gestão da água.

“Não podemos olhar apenas para chuvas extremas ou secas extremas, porque temos que gerenciar com segurança esses influxos de água cada vez maiores, enquanto também nos preparamos para interlúdios progressivamente mais secos”, observou Swain.

“É por isso que a ‘cogestão’ é um paradigma importante. Ela leva você a conclusões mais holísticas sobre quais intervenções e soluções são mais apropriadas, em comparação a considerar o risco de seca e inundação isoladamente.”

A análise pontua que, em muitas regiões, os projetos de gestão tradicionais incluem desviar as águas das enchentes para fluir rapidamente para o oceano, ou soluções mais lentas, como permitir que a chuva se infiltre no lençol freático. No entanto, tomadas isoladamente, cada opção deixa as cidades vulneráveis ao outro lado do chicote climático.

Fonte: Um Só Planeta

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